Em apresentação no XI Seminário de Energia Nuclear (SIEN) no dia 29/10, o diretor-presidente da Amazul, Antonio Carlos Soares Guerreiro, anunciou que a empresa pretende implantar no Brasil centros de irradiação para permitir a utilização das tecnologias nucleares para esterilização nos setores de produção de alimentos, medicamentos, cosméticos, insumos para a área médica e outras indústrias.
Para isso, a empresa buscará no mercado internacional fornecedores de equipamentos e sistemas de irradiação que deverão atender às necessidades de cada setor.
A estratégia de busca de parceiros para o projeto (fornecedores de sistemas de irradiação, construtores de instalações, investidores) foi detalhada pelo coordenador-geral de Negócios da Amazul, Nilo de Almeida, que também participou do SIEN. A Amazul já está cadastrando empresas fabricantes de sistemas de irradiação e pode atuar no apoio à negociação, na elaboração dos projetos de engenharia, no licenciamento e na fiscalização de implantação dos centros irradiadores.
Na sequência, o engenheiro nuclear Rafael Komatsu, lotado na Diretoria Técnica da Amazul, descreveu as diferentes instalações para abrigar irradiadores industriais conforme as normas de segurança nuclear e proteção radiológica e as aplicações conforme o tipo de radiação utilizada (raios gama, feixe de elétrons e raios x).
O engenheiro também frisou que essa tecnologia é aplicada em níveis inferiores aos da energia necessária para criação de radioisótopos – por essa razão, os materiais tratados com irradiação não se tornam radioativos.
No caso dos alimentos, a irradiação elimina bactérias e micro-organismos prejudiciais à saúde e aumenta o período de conservação, trazendo ganhos de produtividade para a cadeia de produção. “Para se ter uma ideia do mercado potencial desses centros de irradiação, basta lembrar que o agronegócio é responsável por 21,4% do PIB e 43% do valor total das exportações, em 2019”, destacou Guerreiro. “Hoje, o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas e exporta apenas cerca de 3% da sua produção”, acrescentou.
O interesse por esta tecnologia tem aumentado desde a criação de um Grupo Técnico para tratar do tema no âmbito do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, sob a liderança do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e com a participação de diversos órgãos do governo. Representantes de setores produtivos ficaram interessados em utilizar esta tecnologia, que existe há mais de 30 anos no exterior, mas é pouco utilizada no País.
A mesma tecnologia pode ser usada em outros setores, como os de cosméticos, material médico (máscaras e luvas de proteção, bisturis), acervos históricos, obras de arte. Tem aplicação também nos bancos de tecidos e ossos para eliminar micro-organismos e reduzir a rejeição nos casos de transplante.
Profissionais da Amazul acompanharam SIEN pelo Youtube
O formato online do SIEN permitiu aos profissionais da Amazul acompanharem toda a programação do seminário pelo Youtube. No primeiro dia (28/10), o diretor técnico Francisco Roberto Portella Deiana, sete engenheiros e um físico nuclear assistiram às apresentações e trocaram impressões na sala de videoconferências da empresa.
No dia 29/10, 12 profissionais da Amazul assistiram às apresentações do segundo dia do SIEN no auditório da empresa, com a participação do diretor técnico Francisco Deiana e do diretor de Gestão do Conhecimento e Pessoas Newton de Almeida Costa Neto. Outros dois engenheiros da Amazul, lotados no Centro de Radiofarmácia do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, acompanharam as apresentações no local de trabalho.
Programação do SIEN
Realizado de 28 a 30 de outubro, o XI SIEN teve como tema central o novo modelo de negócios para retomada da usina nuclear de Angra 3, além da perspectiva de construção de novas usinas até 2050. Na cerimônia de abertura (28/10), falaram os ministros de Minas e Energia, almirante Bento Albuquerque, e o da Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, e os presidentes da Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior, e da Eletronuclear, Leonam dos Santos Guimarães.
No dia 28/10, a programação do seminário pontuou projetos dos quais a Amazul participa ou tem planos de participar, como a retomada da construção de Angra 3.
O projeto do Centro Nacional de Tecnologia Nuclear e Ambiental (Centena) como repositório de rejeitos de baixo e médio nível de radiação, outro projeto de interesse da Amazul, foi apresentado em mesa-redonda também no dia 28. Outro tema de destaque foram as perspectivas e desafios da medicina nuclear e o mercado de radiofármacos no Brasil.
Na manhã do dia 29/10, a técnica de irradiação para dinamizar a agropecuária nacional e a implantação de irradiadores multipropósitos no Brasil reuniu em videoconferência representantes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Ministério da Agricultura, Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, além da empresa IBA Group.
À tarde, representantes da INB e do Ministério de Minas e Energia debateram a mineração e o mercado internacional de urânio e combustível nuclear. A extensão da vida útil de Angra 1, objeto de contrato entre Amazul e Eletronuclear, foi tema de painel na mesma tarde.
No dia 30/10, o assessor de Comunicação Social e Sustentabilidade da Amazul, Charles Magno Medeiros, participou de debate sobre comunicação do setor nuclear com o coordenador de Comunicação Institucional da Eletronuclear, Marco Antônio Torres Alves, e a conselheira da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), Olga Simbalista.