A entrega do primeiro respirador do Projeto Inspire, ocorrida em 2021, deu início a uma importante ação de mobilização para o enfrentamento da pandemia da Covid-19. Desde então, mais de mil unidades do equipamento foram produzidas, das quais 867 distribuídas, gratuitamente, em todo o Brasil. Neste ano, está prevista a produção de mais respiradores.
O equipamento é um suporte respiratório emergencial e transitório do tipo “ambu” automatizado. É um tipo de ventilador pulmonar que funciona por bateria e tem nível de controle computacional sofisticado que se baseia em uma bomba independente chamada de ambu. Entre os seus principais diferenciais destacam-se o baixo custo, a rápida produção, o uso de tecnologia brasileira, e sua portabilidade, além de ter autonomia de até 2 horas em caso de falta de energia elétrica. O respirador não precisa de uma linha de ar comprido para o funcionamento e é ideal para a utilização em hospitais de campanha, ambulâncias e regiões remotas.
Os equipamentos foram doados a 244 hospitais em mais de 200 municípios, de 16 estados brasileiros. Um dos primeiros estados beneficiados com o projeto, o Amazonas, recebeu mais de 40 unidades no ano passado, para suprir demandas emergenciais em 13 hospitais de dois municípios, incluindo a capital. Um deles foi o Hospital Santo Alberto, em Manaus (AM), que separou áreas específicas para a recepção de pacientes com o coronavírus.
Na avaliação da coordenadora do Comitê de Controle de Infecção Hospitalar da unidade, a médica Elena Marta Amaral dos Santos, os equipamentos garantiram melhor atendimento aos pacientes que aguardavam novos procedimentos. “Diante de tantas perdas e notícias tristes, o Hospital Santo Alberto compartilha a alegria de ter recebido os dois respiradores, ação que repercute no Amazonas, salvando vidas”, destacou.
O estado que mais recebeu respiradores foi São Paulo, com 464 unidades do Inspire distribuídas a 118 hospitais. Desse total, 66 equipamentos foram doados a oito unidades de saúde da capital e 398 a 107 municípios do interior. Em Minas Gerais, 101 ventiladores doados a 35 hospitais, em 35 cidades. Em Goiás, 52 unidades foram entregues a 13 hospitais, em 13 municípios. Para o Coordenador do Projeto Inspire, da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), o professor Raúl Gonzalez Lima, o resultado foi muito positivo. “Os hospitais sempre ficam admirados com as possibilidades e funcionalidades do ventilador, e extremamente agradecidos, especialmente aqueles mais sobrecarregados”, enfatizou.
O Diretor do Centro de Coordenação de Estudos da Marinha em São Paulo (CCEMSP), o Capitão de Mar e Guerra (EN) Paulo Henrique da Rocha, explica como o Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo (CTMSP) viabilizou a montagem e o desenvolvimento do equipamento Inspire. “Durante o processo de autorização e certificação da Anvisa, a Marinha recebeu um equipamento ‘cabeça de série’ e, a partir deste exemplar, desenvolveu toda a documentação de engenharia, práticas operacionais e rotinas de testes”, detalhou o Diretor. “A Marinha, junto com a equipe da Poli-USP, vem gerando documentação técnica detalhada e, a partir daí, foi possível criar práticas operacionais de forma a mantermos uma linha de produção desse ventilador aqui nas nossas instalações”, acrescentou.
O desenvolvimento do equipamento é resultado de mais uma parceria entre a Marinha do Brasil (MB), por meio do CTMSP, e a Universidade de São Paulo, pela sua Escola Politécnica (Poli-USP). As duas instituições atuam em conjunto há 65 anos e têm ajudado diversos projetos voltados a minimizar o sofrimento da população durante a pandemia, seja em questões de logística humanitária, distribuição de máscaras e shields, ventiladores e equipes de treinamento. Desde março de 2020, sob direção do CCEMSP, o CTMSP realiza montagem, testes e distribuição dos ventiladores. O centro tem uma equipe do Corpo de Engenheiros da Marinha e de Praças especializadas, que se dedicam exclusivamente ao projeto.
As atividades da equipe técnica da Marinha consistem na montagem do equipamento, testes de funcionamento em um simulador de pulmão mecânico, geração de práticas operacionais e implantação do sistema de gestão da qualidade, seguindo as boas práticas de montagem e em conformidade com as normas vigentes da Anvisa. Todos os testes são supervisionados e aprovados pelo professor Raúl Gonzalez, que ressalta as outras colaborações do CTMSP para o Projeto. “Desde a fase inicial do Inspire, a Marinha agregou credibilidade e usou o conhecimento do seu Corpo de Engenheiros para desenvolver os sistemas de informações necessários à montagem dos equipamentos. Além disso, também tem dado todo o suporte logístico, a fim de possibilitar a realização do programa de treinamento dos aparelhos nas cidades”, salientou.
Como funciona o respirador móvel
O material do reservatório flexível do Inspire é de silicone ou PVC. O ambu foi desenvolvido por seis décadas para manter a ventilação mecânica de pacientes, sendo acionado manualmente. Do ponto de vista de engenharia, o ambu é esterilizável e pode ser facilmente reposto, caso, após inúmeros procedimentos de esterilização, ele mostre alguma alteração no seu funcionamento. No início da história dos ventiladores de pulmão, os foles foram amplamente utilizados. “A tecnologia ambu tem diversas vantagens no momento. Todo o percurso do ar que vai para o paciente é esterilizado, todos os componentes são fabricados no Brasil, e aprovados pela Anvisa; a durabilidade é elevada, e podem gerar fluxos de ar com elevada precisão se controlados por microprocessadores”, explicou o professor.
O equipamento tem três funções físicas: gerar fluxo de ar e oxigênio com pressão ou fluxo pré-definido; dosar o oxigênio, que é adicionado ao ar; e controlar a pressão no final da expiração. “A interface com o operador deve ser clara, e a operação de ventilar o pulmão deve ocorrer de forma a proteger o paciente e minimizar o dano tecidual no pulmão”, complementou.
Desafios na produção
Alguns dos desafios resolvidos pela equipe foram acerca dos procedimentos de certificação por agência sanitária, angariar fundos para financiar o desenvolvimento do respirador, produção e distribuição do produto e o treinamento dos operadores dos equipamentos e da equipe de manutenção. Para isso, contaram com apoio de órgãos públicos e privados. A Anvisa, por exemplo, elaborou uma norma específica para o equipamento; a Volkswagen designou uma equipe de especialistas em controle de qualidade para assessoramento na produção de eletrônicos; a Marinha se prontificou a fabricar os ventiladores e a coordenar a logística da distribuição; indivíduos e empresas fizeram doações em dinheiro; e outras empresas doaram bens e serviços.
O Diretor-Geral da Associação dos Engenheiros Politécnicos, Dario Gramorelli, relatou a dificuldade da instituição em fabricar ventiladores como esse e, por isso, a necessidade de unir esforços para esse fim. “Nós somos uma instituição de ensino e pesquisa e não temos o braço fabricante, não temos o braço da execução e, nesse sentido, a Marinha foi e está sendo fundamental”, avaliou.
O Vice-Coordenador do Projeto Inspire, professor Marcelo Knorich Zuffo, fez uma comparação entre o projeto e os desafios da MB, como o Programa de Desenvolvimento de Submarinos, mais conhecido como PROSUB, um dos Programas Estratégicos da Força. “Essa tecnologia envolve questões de natureza mecânica, eletrônica e de computação muito avançadas, e que são próximas dos desafios que a Marinha tem no desenvolvimento do nosso submarino [com propulsão] nuclear”, concluiu.
As informações são da Marinha do Brasil.
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