Um esforço internacional tem sido feito para adoção de uma política de padronização de nomes geográficos de relevos submarinos, para que sejam utilizados em mapas, cartas náuticas, trabalhos científicos, a fim de que todos, em qualquer lugar do mundo, falem a mesma linguagem – tal qual acontece com os relevos terrestres, onde os nomes de serras, morros, planícies e montanhas já fazem parte do vocabulário cotidiano das pessoas.
O mapeamento do fundo do mar ainda é um grande desafio devido às dificuldades de exploração relacionadas à logística e ao alto custo para a coleta de dados, tanto no que diz respeito à operação de navios quanto aos equipamentos tecnológicos disponíveis. Costuma-se afirmar que se conhece mais a respeito da superfície do planeta Marte do que do fundo marinho de nosso planeta, tamanha a carência de informações disponíveis. O reconhecimento das características e peculiaridades dessas regiões oceânicas propicia uma melhor compreensão da biodiversidade, dos relevos, dos recursos e de suas possíveis utilizações.
Em prol desse empenho, em novembro deste ano, a Primeiro-Tenente (Quadro Técnico) Lorena da Fonseca Sampaio representará o Brasil na próxima reunião do Subcomitê sobre Nomenclatura de Feições do Relevo Submarino (SCUFN), o qual realiza o mapeamento, a padronização e a nomeação das características dos relevos que estejam localizados além do mar territorial dos Estados costeiros. No primeiro semestre de 2022, a geóloga da Marinha do Brasil foi selecionada para ser a nova representante do País no SCUFN, que é formado por 12 integrantes especialistas em hidrografia e geociências, representantes da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da Unesco (COI) e da Organização Hidrográfica Internacional (OHI). Além do Brasil, países como Coreia do Sul, Japão, México, Itália, Nova Zelândia, Malásia, China, Estados Unidos, Quênia, Austrália e França são membros do grupo.
Para a Tenente Lorena, que há quatro anos participa como observadora do subcomitê, a expectativa é contribuir mais ativamente no fórum e permanecer na vaga, que já foi ocupada pelo Brasil anteriormente, trabalhando de forma alinhada à visão da COI. “Espero atuar na divulgação da relevância do tema para a comunidade científica nacional e manter o espírito de cooperação entre os países que trabalham para ampliação do conhecimento e uso adequado do ambiente marinho”.
Esta será a segunda vez que o Brasil fará parte do SCUFN. A primeira foi de 2008 a 2018, também com uma representante da MB, a Capitão de Mar e Guerra (Quadro Técnico) Ana Angélica Ligiéro Alberoni. A indicação é submetida à COI ou à OHI por meio do envio de currículo técnico e comprovação de atividades exercidas na carreira. O mandato é de cinco anos podendo ser prorrogado por mais cinco.
SCUFN: por que nomear um relevo do fundo do mar?
A correta utilização dos nomes geográficos implica diretamente na efetividade da comunicação. Grande parte dos oceanos ainda é desconhecida, com regiões que possuem potenciais em diversas áreas, seja para fins de atividades energéticas, de exploração mineral, medicinal ou para desenvolvimento tecnológico.
“É importante salientar que, assim como a Diretoria de Hidrografia e Navegação tem submetido diversas propostas ao longo de décadas, os profissionais da área, pesquisadores e instituições também devem submeter novas propostas de feições submarinas da Margem Continental Brasileira, a fim de que se possa, cada vez mais, navegar sobre o fundo marinho conhecido, mapeado e nomeado, como ocorre na porção emersa do continente”, afirma a Capitão de Mar e Guerra Ana Angélica.
A especialista explica que as denominações têm a capacidade de correlacionar o ambiente às culturas, tradições e características de um povo ou região, homenagear pessoas ilustres, além de auxiliar na identificação e na descrição do relevo submarino. “O reconhecimento das características e peculiaridades dessas regiões oceânicas e sua associação com a identidade da nação também demonstram o reconhecimento da soberania de um país e a noção de pertencimento a uma região”.
É o caso da região conhecida como “Elevação do Rio Grande”, onde diversas feições do relevo submarino foram recentemente nomeadas. A Elevação do Rio Grande é uma área submersa, a cerca de 1.400 quilômetros do litoral do Rio Grande do Sul, que faz parte do pleito brasileiro junto à Comissão de Limites da Plataforma Continental da Organização das Nações Unidas (ONU), a fim de expandir o limite marítimo do País para além das 200 milhas náuticas. O local é rico em recursos minerais e tem potencial para exploração econômica.