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No dia em que se comemora o Dia do Marinheiro, o Diretor-Geral do Pessoal da Marinha evidencia como o investimento no capital humano se traduz em avanços para a instituição

No dia 13 de dezembro, a Marinha do Brasil (MB) celebra o Dia do Marinheiro, a data homenageia o aniversário do Almirante Joaquim Marques Lisboa, o “Marquês de Tamandaré”. Como uma forma de destacar a importância da carreira de homens e mulheres do mar, que seguem o exemplo do Patrono da Força, a Agência Marinha de Notícias (AgMN) entrevistou o Diretor-Geral do Pessoal da Marinha, o Almirante de Esquadra Claudio Henrique Mello de Almeida.

O Almirante Mello ingressou na MB em 1982 e, durante a sua carreira, comandou diversos meios navais e organizações militares, como a Fragata “Greenhalgh”, o 2° Esquadrão de Escolta e o Centro de Adestramento “Almirante Marques de Leão”. Também comandou a Força-Tarefa Marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) e exerceu os cargos de Comandante do 8º Distrito Naval, Comandante em Chefe da Esquadra e Chefe do Estado-Maior do Comando de Operações Navais.

Durante a entrevista, o diretor destacou o programa estratégico da MB “Pessoal, Nosso Maior Patrimônio”. O programa visa aperfeiçoar a gestão de pessoal, a fim de prover à Marinha a pessoa certa, com a capacitação adequada, no lugar e no momento certos, desenvolvendo as competências intelectual e militar-naval, além da higidez física e psicossocial da força de trabalho. Confira!

AgMN – Qual a importância do Programa “Pessoal, Nosso Maior Patrimônio” para a Marinha do Brasil? E dos subprogramas que o compõem?

Almirante de Esquadra Mello – O “Pessoal, Nosso Maior Patrimônio”, sob responsabilidade da Diretoria Geral do Pessoal da Marinha (DGPM), é composto por quatro subprogramas que coincidem com os quatro grandes pilares que o setor tem para sua atuação. Os subprogramas são importantíssimos pois, em conjunto, se complementam e permitem justamente que nós consigamos atingir o grande propósito do programa, que é aperfeiçoar a nossa gestão do pessoal.

O primeiro deles é o “Pró-Pessoal”, capitaneado pela Diretoria do Pessoal da Marinha; temos também o “Pró-Capacitação” a cargo principalmente da Diretoria de Ensino; o “Pró-Saúde” sob a responsabilidade da Diretoria de Saúde da Marinha e do Sistema de Saúde da Marinha como um todo. E, por fim, temos o “Pró-Social”, liderado pela Diretoria de Assistência Social da Marinha que possui diversas iniciativas para promover a melhor qualidade de vida ao nosso pessoal, não só militares e servidores civis, mas de toda a Família Naval.

AgMN – Quantos militares da MB compõem a Força atualmente?

Almirante de Esquadra Mello – Hoje a nossa força de trabalho é composta por cerca de 73.400 militares, incluindo o pessoal de carreira, os temporários e o pessoal da reserva prestando Tarefa por Tempo Certo ou redesignado para o serviço ativo. Ressalto também que contamos com cerca de 2.700 servidores civis que desempenham um papel muito importante, complementando as atividades exercidas pelos nossos militares.

AgMN – Como a MB tem buscado aprimorar a gestão de pessoal para garantir o bem-estar e o desenvolvimento contínuo de seus militares? Quais são as últimas iniciativas?

Almirante de Esquadra Mello – Temos diversas iniciativas voltadas para o bem-estar e o desenvolvimento do nosso pessoal, mas ressalto aquelas cujo foco é aprimorar a gestão do pessoal, ligadas ao subprograma “Pró-pessoal”. Duas iniciativas podem ser lembradas aqui: a gestão do conhecimento e a gestão por competências.

Há cerca de três anos, a Diretoria do Pessoal da Marinha passou a ser a Organização Militar orientadora técnica da área de gestão do conhecimento da Marinha. Isso permitiu que essa atividade fosse exercida e coordenada pela diretoria especializada, responsável pela gestão do pessoal e de carreira. Promovendo, assim, uma gestão mais eficaz dessa área de conhecimento.

Outro ponto muito importante é a gestão por competências. Ela destaca-se tanto como atividade no dia a dia, como voltada para os nossos programas estratégicos. Há ainda outros aspectos que podem parecer menos abrangentes, mas também tem eficácia no aprimoramento do serviço prestado à nossa Família Naval. Cito, por exemplo, um investimento muito grande que tem sido realizado nos sistemas digitais e de inteligência artificial, disponibilizados para o nosso pessoal, tornando diversos processos mais céleres e sem a necessidade do presencial.

Um desses casos é o da identidade digital da Marinha, que permite que o militar tenha a comodidade e segurança de ter o documento em um aplicativo no celular. Também lembro a ampliação das certificações digitais de documentos, que dão mais eficiência administrativa. Outro ponto importante é em relação ao atendimento aos veteranos, que hoje podem realizar diversos procedimentos em casa, como a prova de vida digital. Por se tratar de um público mais idoso, que muitas vezes não tem uma ambientação com ferramentas digitais, tudo é pensado para que não gere por um lado um progresso, mas por outro, um obstáculo para o nosso veterano acessar determinado sistema.

De maneira geral, outro processo que considero muito importante é o da valorização da meritocracia, que abrange todos os nossos militares e servidores civis. Diz respeito à confiança de que o desempenho e o mérito obtido serão fatores preponderantes para ascensão profissional ao longo da carreira. Então, na gestão do pessoal, esses são alguns pontos que temos focado para garantir o bem-estar e desenvolver os nossos militares.

AgMN – Quais são as iniciativas recentes para o aprimoramento da capacitação dos militares? Há programas específicos para o desenvolvimento de habilidades técnicas e de liderança?

Almirante de Esquadra Mello – O aprimoramento da capacitação é preocupação e foco constante da Marinha. A Força depende de que o nosso pessoal adquira a capacitação adequada, a mantenha e aprimore ao longo de toda a carreira. Outra questão do setor de pessoal é permitir que tenhamos um processo contínuo de capacitação, sem períodos longos, durante a carreira, sem novas oportunidades de aperfeiçoamento.

A Marinha buscou, recentemente, criar cursos para extinguir essas lacunas de capacitação como, por exemplo, o Curso de Aperfeiçoamento para Praças. Por ser um curso complementar, e não de carreira, ele não é obrigatório para todos, mas atende cerca de 65% do pessoal. Outro caso é o Curso de Assessoria para Estado-Maior para Suboficiais, que visa permitir a sua capacitação para o assessoramento da cadeia de comando. Lembrando que muitas dessas iniciativas envolvem a percepção de adicionais de habilitação, uma contrapartida financeira correspondente a essa maior capacitação e que também representa um benefício ao militar e as suas famílias.

Em termos de instalações físicas, temos várias iniciativas em andamento, ligadas, também, a programas estratégicos da Marinha. Uma muito importante é a modernização das instalações do Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), onde dois prédios estão sendo revitalizados para receber toda a parte de gestão do conhecimento do Programa das Fragatas Classe “Tamandaré”. Ainda em relação ao CIAA, a Marinha decidiu torná-lo um centro de instrução técnica tanto para Oficiais como para Praças. Uma vantagem imediata e evidente dessa mudança é que poderemos otimizar o uso dos simuladores técnicos, assim como dos instrutores, que poderão ministrar as disciplinas em um único centro de instrução.
Outra iniciativa é tornar o Centro de Instrução Almirante Wandenkolk (CIAW) um centro de ensino virtual e de idiomas. Hoje, nós temos essas atividades sendo feitas de forma muito eficaz, mas no local que talvez não seja o mais apropriado, fazendo uso de instalações da Diretoria de Ensino da Marinha. Já o CIAW teria essa vocação, por ser uma ilha, teríamos ali toda a capacidade de ministrar a fase de imersão de idiomas. Além de se tornar um centro de ensino virtual, já que vimos desde a pandemia a necessidade de aumentar a capacidade de ensino à distância.

Voltando aos incentivos, temos aumentado o número de visitas e cursos de Praças ao exterior, aumentando a interação com outras marinhas, Forças e instituições estrangeiras. Aconteceu em 2023 e vai se repetir no próximo ano, o programa de visita dos Grumetes das Escolas de Aprendizes-Marinheiros a outras escolas de formação equivalentes fora do País. Isso permite que os nossos militares, ainda numa fase muito inicial da carreira, já tenham chance de ir para o exterior e aprimorar sua cultura profissional.
Por fim, essa valorização da liderança de Praças tem um pilar muito importante que é o “Programa Suboficial-Mor”. Nele é valorizada a autonomia do militar, para que seja um elemento-chave na ligação entre o comando e a tripulação. Essa iniciativa tem apresentado um retorno excepcional. Recentemente, tivemos a visita do pessoal responsável por programas semelhantes na Marinha dos Estados Unidos, que ficaram impressionados com a evolução do nosso programa.

AgMN – Como a Marinha está buscando novos talentos e quais são os principais critérios e estratégias adotadas para atrair profissionais cada vez mais qualificados?

Almirante de Esquadra Mello – Essa é uma busca constante nos nossos planos de recrutamento, para conseguir o pessoal mais qualificado para a Força. E, ao fazer isso, nós estamos disputando com o mercado de uma maneira geral. Então, é uma “briga” constante para trazer o melhor pessoal, e isso envolve um processo contínuo e dinâmico que é conduzido, principalmente, pelo setor do Ensino, por intermédio do Serviço de Seleção do Pessoal da Marinha.

Isso envolve buscar candidatos com interesse em ingressar na carreira naval. Recentemente, tivemos um retorno muito positivo de uma visita de alunos do Colégio Naval a uma escola de tempo integral em Palmas (TO). Incentivamos ações semelhantes em níveis diferentes, para que possamos apresentar o que a Força oferece para nossa população, aumentando a possibilidade de candidatos.

Existem, ainda, outras iniciativas com impacto significativo como, por exemplo, o aumento das oportunidades de ingresso das mulheres, isso abriu um grande universo de possibilidades e novos talentos para nós. Esse ano, estamos formando pela primeira vez, em Santa Catarina, uma turma de Marinheiros composta também por uma parte de mulheres. Os resultados já podem ser notados: a primeira colocada dessa turma já foi uma menina. Já no próximo ano, as primeiras mulheres vão cursar na turma de Soldados Fuzileiros Navais.

Outra área muito importante é a reserva de terceira categoria, os RM3. Esses são profissionais de alta qualificação, normalmente com nível de mestrado, doutorado e que as Forças podem captar por conta do notório saber nas suas áreas de conhecimento. Esse pessoal já ingressa como Capitão de Corveta e a faixa de idade deles vai até 62 anos, justamente para que possamos buscar talentos muito específicos. Temos recrutado esse pessoal, principalmente para atender três áreas: ciência e tecnologia, saúde e magistério.

AgMN – Sobre a carreira dos militares, quais são os principais benefícios e incentivos oferecidos a eles? Há novidades em termos de incentivo à educação, programas de saúde, entre outros?

Almirante de Esquadra Mello – Em termos de benefícios oferecidos, além da capacitação de uma forma continuada, dos cursos de aperfeiçoamento avançado de Praças, entre outros, gostaria de mencionar um curso, aprovado neste ano, e que deve compor o plano de carreira de Oficiais já em 2024. A iniciativa é voltada para o Quadro Técnico, algumas profissões do Quadro de Apoio à Saúde e os Capelães Navais, que não tinham um curso de aperfeiçoamento como os outros. Isso deve ocorrer no quinto ano como Oficial. Assim, buscamos manter a capacitação como um processo continuado e também como um incentivo ao nosso pessoal.

Com relação aos programas de saúde, temos iniciativas que geraram impacto muito positivo. Uma delas é o serviço de medicina integral (SMI), principalmente nas nossas policlínicas, que ajuda a desonerar os nossos hospitais. Existe também o Núcleo de Atendimento ao Idoso (NAIM), que também está sendo espalhado para todo o território nacional.

Outro ponto muito importante é o Programa Saúde Naval. Atuando na área de prevenção, há uma equipe bem preparada, qualificada tecnicamente para elaborar materiais que foquem na divulgação de técnicas e práticas voltadas para a prevenção de doenças e manutenção do nosso bem-estar. Ainda dentro do “Pró-Saúde” temos investimentos na criação de novas policlínicas e ampliação das existentes para aprimorar os serviços aos usuários, em localidades mais próximas de suas residências, evitando longos e demorados deslocamentos.

Para o início de 2024, temos a previsão do início das obras da Policlínica Naval Nossa Senhora da Penha com acesso direto pela Avenida Brasil no Rio de Janeiro. Nossa expectativa de atendimento gira em torno de mais de 70 mil usuários, principalmente, da Baixada Fluminense e da Zona Norte. Outra obra que será iniciada é a do prédio administrativo da Policlínica Naval de Campo Grande, com intuito de aumentar a capacidade de atendimento.

Existem dois pontos que também valem ser mencionados sobre o Sistema de Saúde: o primeiro é um marco que foi conseguido em 2023 pelo Hospital Naval Marcílio Dias, que obteve a acreditação na área de segurança do paciente, sendo o primeiro hospital militar a conseguir esse nível de acreditação pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). Outro aspecto importante é o Sistema Digital de Gestão e Saúde (AGHUse), que permitirá o compartilhamento de prontuários, laudos, exames e dar uma flexibilidade grande à área da saúde.

AgMN – Poderia falar um pouco qual a importância e como funciona o apoio à Família Naval? Quais ações são feitas nesse sentido?

Almirante de Esquadra Mello – O apoio à Família Naval se dá para além da assistência social. É feito por cada um desses subprogramas que temos, então quando provemos um atendimento médico-hospitalar de qualidade, disponibilizamos os próprios nacionais residenciais (PNR), áreas recreativas, por exemplo, tudo isso proporciona mais qualidade de vida ao nosso pessoal.

Hoje, quando falamos da Família Naval estamos nos referindo a um universo de 600 mil pessoas, porque englobamos todos os veteranos, dependentes e pensionistas. Cada grupo com uma necessidade distinta, e muitos desafios para promovermos esse apoio adequado. Então, para isso, nós temos o Sistema de Assistência Social da Marinha, composto por 45 órgãos de execução distribuídos pelo País. O Sistema tem uma forma coordenada, mas, ao mesmo tempo, flexível de atuação desses órgãos de assistência em todo território. Com programas muito importantes que englobam desde atendimento ao idoso, atendimento especial a pessoa com deficiência, entre outros.

Gostaria também de destacar o atendimento ao pessoal em missões. A Marinha esteve por muito tempo no Líbano, hoje temos navios que operam no Golfo da Guiné e na Antártica, por exemplo. Para essas missões mais longas, é feito todo um trabalho com o pessoal que vai viajar e com os seus familiares. Há todo um acompanhamento e, ao final, uma entrevista de conclusão para permitir aprimorar o próprio sistema.

Outro ponto importante com relação à assistência social é o papel complementar, mas fundamental da Associação Abrigo do Marinheiro e do trabalho exercido pelas voluntárias Cisne Branco, com atividades diretas junto aos nossos hospitais, a Unidade Integrada de Saúde Mental, entre outros.

AgMN – Nesse dia 13 de dezembro, data tão importante para a Forca, qual mensagem o senhor deseja transmitir para os todos os marinheiros?

Almirante de Esquadra Mello – A grande mensagem é afirmar ao nosso pessoal, que eles estão em uma instituição que valoriza a meritocracia e que cuida do seu pessoal. Quando dizemos “cuidando da nossa gente”, parte do lema da MB, nós também estamos cuidando da gente que cuida da nossa gente, por meio de todos esses programas mencionados. Nossa instituição dá oportunidade de ascensão profissional e isso contribui para valorização do próprio pessoal, do seu senso de autoestima e de pertencimento à instituição.

Fazemos com que o pessoal seja o nosso maior patrimônio, não só como um lema, mas realmente como um uma convicção de que, sem esse grande patrimônio, os demais recursos não são suficientes para a eficácia da Força. É possível comprar material, construir um meio operativo, mas não conseguimos obter um profissional competente de forma improvisada ou em pouco tempo.

As informações são da Agência Marinha de Notícias.

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